sábado, 14 de junho de 2008

Uma carreta, carregada de esperanças...

Já anoitecia e os últimos raios de sol, tinham deixado no céu matizes do vermelho como se fossem pintados a pincel. A carreta rangia e os bois mostravam cansaço. As crianças pendiam suas cabeças dormindo, o caçula no colo da mãe e os outros encostados, nas poucas bugigangas que faziam parte da mudança, uma lata de banha, uma saca de milho, e outra saca com uma quarta de feijão, doada pelo compadre Leotêncio-padrinho do caçula-, para semear e dar início a um novo plantio. Alimentos que dariam somente para a viagem e no mais sonho e esperanças acompanhavam aquela família.

Ernesto relembrou o momento em que chegou a casa e sua esposa já sabendo da notícia, somente o fitou com aqueles olhos negros feitos jabuticaba compreendendo toda a sua dor e em silêncio o abraçou... Amargas eram as lágrimas de Ernesto, como amargo e cruel tinha sido o Senhor das terras, no qual Ernesto tinha semeado sonhos de um viver digno.

Várias vezes tinha sofrido ameaças pelo senhor das terras , em proibição para que não gastasse seu tempo na doma de cavalos. E quando deixou de ser ameaças, tentou desferir em Ernesto um golpe de facão que por sorte não o atingiu, sob ordens para que Ernesto se retirasse de suas terras.

Os poucos pertences de sua esposa Luzia faziam parte da mudança, um baú com uma colcha de retalho-feito por sua avó-, seus parcos vestidos (já surrados e gastos pelo uso) e um porta-retrato com a foto de Luzia e de suas irmãs, tirada na festa da santa padroeira do lugar. E Luzia assim se chamava pois sua avó devota da santa, na hora do parto tinha feito à promessa que se a criança esperada nascesse com vida e fosse mulher, batizaria com o nome da santa. Luzia nasceu e sobreviveu, mas sua mãe após o parto difícil faleceu e a responsabilidade de criar Luzia e suas irmãs, recaiu sobre sua avó.

Ele fitou aquela que escolhera como companheira de vida, eleita aos seus olhos a mais bela da redondeza, implorando para que a Santa Luzia protegesse sua família e em silêncio fez uma prece para que sua esposa resistisse à viagem, pois mais um filho estava a caminho.

Todavia, sabia que para onde se aventurava com sua família, não era nem de perto parecido do lugar que até então tinha vivido...


Beijo a todos que visitam esse espaço!

10 comentários:

Oliver Pickwick disse...

Uma realidade diferente, possível apenas nas mil faces deste país imenso.
Acredito que a última vez que vi alguma referência ao termo "lata de banha" ainda era criança.
Sua ficção melhora a cada dia.
Um beijo!

Unknown disse...

Incrivel como a tua imaginação corre solta aqui.
Beijos adorei e fiquei triste pela Luzia e pelo Ernesto.
Beijos
Betânia

Luiz disse...

estórias (de Rosa) de sertão e veredas, estórias de coronelismo desse brasilzão mal-distribuído, estórias de amor-companheiro e prenhez dos simples, estórias do ir e vir, traço seu. beijo

Anônimo disse...

Cada vez melhor.
Pensa no causo.....rsrsrsrs
beijossssssssssss

Anônimo disse...

Ebaaaa!!
Consegui driblar o blog!
Consegui driblar meu sistema de segurança!!
Tô quase uma "hacker"..rs
Hoje,vim decidida!
Ou desbloqeava tudo...ou acabava com a festa..rss
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Anônimo disse...

Muitas vezes,as circunstâncias nos obrigam a mudarmos...
Mudamos os móveis,mudamos de casa,mudamos de amores...
Algo sempre nos move...mesmo que nossa vontade seja de ficarmos parados...criarmos raízes.
Nos empurram com a barriga...dão um passo pra trás...e nos obrigam a ficarmos na primeira fila!
Sem pensar,aceitamos as mudanças...e levamos,com elas,nossas trouxas,nossos medos e angústias...
Tenho pensado muito em mudar!
Isto tem martelado minha cabeça!
Estão me empurrando pro abismo...me obrigando a tomar decisões...proteladas hà muito tempo!
Pq fazem isto,Lu?
Pq tomam decisões por nós?
Pr não nos libertam?
Somos escravos de nós mesmos...
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Beijos,querida...aí,pelas bandas do Polo Norte...rss
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Tuas postagens estão lindas!
Perdoe-me a demora..rs
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Lu disse...

Beta!
Obrigada pela visita e que bom que gostou, feliz que tenha vindo viu?
Beijo!

Lu disse...

Mami!!!
Bom dia,frio aí?
Pensando no causo sim...rsss
Beijos, volte sempre!

Lu disse...

Milly!!!
Nem eu consegui ontem entrar aká.
Menina quanta pergunta!
Responderei, vamos em partes como dizia Jack...rss
Vivemos o resultados de nossas escolhas do passado, boas ou escolhas ruins, mas escolhas.
E o futuro, dependerá também do que nos propormos a mudar hoje, certo?
Claro que, existem vários fatores externos que estarão interagindo, não somente a escolha determinará para que haja êxito e que tudo seja perfeito, não é tão simples assim...e nem garantias há, concordas? Mas se não tentarmos mudar, nunca saberemos, não é mesmo?
Tenho para mim que, as melhores mudanças são as internas.A partir de nosso equilíbrio e paz interior, através dessas mudanças, quando positivas, o externo também nos retorna de outra forma, exemplo daquele dito que diz: Se não pode mudar o país nem o estado e muito menos sua cidade e bairro, comece por si mesma.Elas nos fazem ver melhor e partir da clareza e com o firme propósito os riscos serão menores.
Pois mudar tão somente de cidade, não modificará totalmente o que somos, a inquietação e os medos não ficam na cidade em que vivíamos.
Acredito que quando algo acaba e traz a necessidade de mudança é pq a lição já está feita, requer novas lições. Portanto Milly vejo como positiva a sua necessidade.
Mas sempre antes de fazer as malas consulte o seu coração...rss
Acho melhor mandar o resto por carta...rss
Beijos!

Anônimo disse...

(Risc,risc..) anotando aqui...rs
Qto foi a consulta,Doutora?..rs
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Obrigada,pelo carinho...
Beijos..muitos!
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