sábado, 20 de dezembro de 2008

Memórias e o Natal...



Quando o sol abre seus olhos, parindo a manhã no canto de um sábia, nas asas da esperança aguardo acontecimentos... Qual rio que se entrega a corredeira para ser cachoeira, numa derradeira constância de um viver. Abro a arca das lembranças forjada no tempo, desde que usava trança, me ponho a lembrar e admirar...


Sempre que penso em uma grande mulher, vem em minha mente a imagem da Dona Morena, a quem eu admirava muito. Ela marcou profundamente a minha existência. Morena era linda e fofa, transmitia força e delicadeza em seu olhar. Mãe enérgica, afetuosa e determinada. Passei toda minha infância junto aos seus filhos e com eles passava os dias brincando. Enquanto, dançávamos ao som de músicas tocadas no gramofone, ela tricotava nos olhando por cima dos óculos, rindo das nossas brincadeiras...

Morena adorava cozinhar. O café da tarde era um ritual de família. Todos sentavam juntos à mesa nessa hora, era algo irresistível e mágico. O aroma do café e de seus bolinhos de chuva, a mesa farta, o pão fresco... Aos meus olhos, era um verdadeiro manjar dos deuses. Nem sei dizer quantas vezes em minha vida eu participei do café da tarde e de outras refeições feitas por ela

Sempre me senti muito querida por Dona Morena e sentia seu afeto verdadeiro nos momentos em que ela me chamava e iniciava uma conversa, sempre se referindo a mim como “alemoa”. Achava lindo quando dizia “meu velho”, dirigindo-se ao seu companheiro de vida.

Os Natais eram lindos e a preparação da ceia era motivo de trabalho de muitas horas. Meus natais eram sempre em sua casa. Admirava a sabedoria de Dona Morena. Era lindo vê-la conversar, sabia de tudo e mais um pouco. Foi em sua casa que despertou o meu gosto pela leitura, pois sempre pegava emprestado algum dos livros sobre os mais diversos assuntos, da vasta biblioteca de sua casa. O som das máquinas e mágica das palavras, na impressão fresca do jornal editado semanalmente me fascinava. A gráfica no porão da casa, era um lugar que visitávamos curiosos, procurando saber dos acontecimentos.


Somente após muitos anos, vim a descobrir que Dona Morena não sabia ler e nem escrever. Seu nome tinha aprendido para assinar os documentos e votar. A mulher com quem aprendi tanto, valores, coisas do mundo, era analfabeta. Talvez tenha sido a primeira vez que recebia um exemplo claro do que é sabedoria e o que é conhecimento, duas coisas absolutamente distintas.



Um Feliz Natal para todos!

Beijos!



domingo, 14 de dezembro de 2008

idas e vindas...


Após dias, entre tantos sentimentos que variaram entre desalento, tristeza, revolta e nem sei mais quantos, me vejo escrevendo este post. Não que não tenha escrito, mas o bom senso, a razão, ou sei lá mais o que, não deixaram postar meus escritos.

Um dia li Oliver dizer que, já conseguia não deixar seus sentimentos transpor através da escrita... De certa forma também faço isso. Mas sentimentos fortes transbordam...

Ciclicamente sobrevivemos, por vezes, vivendo momentos que achamos não sobreviver, mas como bem citei, sobrevive-se... Questionamos, pensamos e vivemos aprendizados ao longo de nossa vida. E a partir disso, já não somos mais os mesmos.

Entre idas e vindas, não sei avaliar os resultados e os efeitos de tudo isso. Não que não saiba o caminho a seguir, é que ele está bloqueado, a ponte caiu.

Há em torno de 120 mortos em nosso estado, pela catástrofe ocorrida. Morreu o pai de um colega que não tenho coragem nem de dizer a ele, sinto muito; porque eu sinto muito... Dói em mim minha dor, doem em mim, as dores alheias... Não somos seres fragmentados, como tanta vezes que quiseram nos dizer. Não conseguimos estar imune às dores, e isso nos tornam menos robotizados, mais solidários, mais humanos, para o desespero dos que tem vendido à idéia contrária.


Somos impotentes, sem poder de mudança para tantas coisas. E, é nas mudanças interiores que devemos concentrar nossa energia com determinação. Sabedora disso é o que faço agora, segurando firme ao volante, esperando o nevoeiro dissipar-se.


Beijos a todos!