terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Culinária Natalina...



Lembrei-me que minha mãe fazia bolacha na véspera do Natal. Claro que tudo que ela fazia, era em escala industrial. Eu, no posto de sua ajudante imediata e única auxiliar, tinha que limpar as formas e engraxa-las, cuidar do fogo no forno-que ficava lá no fundo do quintal. Tocar a manivela da máquina de fazer bolacha,( aquelas que também eram usadas pra moer carne) e, recortar a outra parte da massa em forma de estrelas, corações, etc. Levar as formas com as bolachas para assar, retirar as bolachas depois de assadas, voltar a engraxar novamente as formas, e repor novamente com mais bolacha para assar.

Céus! Ela fazia tanta bolacha, que dava pra entupir a dentadura de velhos de um asilo inteiro!

Ufa! Enfim quando as bolachas estavam todas assadas, começava a segunda etapa que era bater umas quantas dúzias de ovos, ou melhor, às claras em neve, cuidando pra que ficasse bem firme o merengue. Não tinha batedeira, isso tudo manual. Depois de colocar o merengue nas bolachas, decorava-se colocando o açúcar de confeiteiro e voltava-se a levar as formas com bolacha para o forno, para secar o merengue.

Tinham umas quantas escadas, não eram de muitos degraus, mas que no final do dia representavam mais altas que a escada do Cristo, no Rio de Janeiro. Que lá pelas tantas eu já subia de quatro pés, de tão cansada. Isso tudo precisava ser rápido, porque se tinha uma coisa que minha mãe sabia fazer muito bem-além de cuca e bolacha, era mandar.

Sempre que ela dava uma nova ordem, completava a frase dizendo: Schnell du!!!

Isso era uma maratona pra um dia inteiro. Mas depois, ainda tinha que limpar a cozinha, que ficava cheia de farinha até o teto. Parecia que ela despejava a farinha com o ventilador ligado. O chão da cozinha tinha umas frestas de dois dedos de largura, e claro que limpar tudo isso levava horas. A sorte era que naquele tempo, derretiam-se uns tabletes de cera, bem vermelha, que levava pelo menos uns três dias pra desencardir as unhas, mas pelo menos disfarçavam algum resquício de farinha. E nada fácil era abrir o lustro do assoalho, com o tal escovão e um pano de lã, depois que a cera estivesse seca. E por mim, eu dormiria por três dias e três noites após isso.

Todavia, mais um ou dois dias ela anunciava: Amanhã vamos fazer cuca! Juro que, muitas vezes pensei em fugir de casa, bem na véspera do Natal.

De manhã, bem cedo começava a mesma maratona, pega as formas, limpa as formas, corre fazer fogo no forno, alcança os ovos, vai ver se o fogo não apagou...

Era cuca recheada de creme de chocolate (minha preferida), cuca recheada de laranja, cuca recheada com creme de groselha, cuca com cobertura de isso e aquilo...

Então, depois de tudo isso ela dizia: Agora pega e leva uma cuca pra Dona Morena, uma pra Dona Negra, um pra sicrana e outra pra beltrana...


Relembro rindo, mas me canso só de pensar o quanto corria nesta data.



Beijos, caros vistantes!


P.S.: Schnell du, significa: Rápida você.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Mistério da ceia...


Nesses últimos dias mexendo nos enfeites de Natal, fabricando gnominhos, criando mais alguns adornos natalinos, e começando a decorar meu doce lar, lembrei-me de um fato do passado... Ou melhor, algo que desconhecia e me intrigava. Passei anos sem citar meu desconhecimento, e nem demonstrar que não tinha menor noção do que se tratava.

Quantos anos eu passei na maior ignorância? Ah, não saberia dizer...


A sua fórmula seria milenar? Guardada em segredo a sete chaves e descoberta em algum reinado distante?


Ano após ano, sempre nesta data, seguia eu no meu dilema ao abrir uma revista à procura de inspiração para decoração natalina... Ao deparar-me com belas imagens e mesas decoradas para ceia, aquele prato tradicional me fazia pensar: Que será isso?

Teria o destino conspirado em meu favor, num dia belo dia ensolarado em que lá eu me debruçava sobre uma das revistas, e os pássaros em revoada por sobre o pátio a contemplar o momento sublime em que o segredo desvendava-se? Ou seria por ser véspera de Natal, e meu presente seria a revelação?

Enfim chegara o dia. Ante meus olhos, estava o esclarecimento:

“Receita de Rabanada!” Pão amanhecido, embebido em uma omelete de ovos, farinha, pitada de sal e açúcar, canela, frito.

Céussssssssssssssssssssss!!! Com mil raios, isso é rabanada??? Foi o que me perguntei, seguida de uma gargalhada.

Aquilo que comíamos sempre quando o pão estava endurecido, nas manhãs de nossa infância-antes de ir pra escola, era o prato fino que constava no cardápio das ceias Natalinas, das mais nobres mesas. Todavia, não lembro a data do descobrimento. Isso faz muitos anos, e foi muito divertido. Sem internet, sem Google para esclarecimento, nosso passado foi outro.

Beijo aos visitantes!