sábado, 12 de junho de 2010

Embora venham ventos contrários...

Quando o vento fica sestroso, balançando esperanças, apagando rastros, quebrando as balizas das trilhas, desviando horizontes e confundindo a geografia... Feito vidraça embaçada, figurante dessa estranha sorte, o que outrora parecia uma visão clara, transforma-se em nevoeiro...

Segue-se, com olhos pra dentro. Mastiga-se a fala, afogam-se ânsias, com lembranças, que são estampas presas nas retinas... Verga a taboca, sangra a sanga do olhar, enquanto procura-se um norte, um sentido pra esses dias.


Campeia-se alento nos limites das fronteiras, nas cancelas, e nas cacimbas de águas limpas... Embora com cismas do mau tempo, o vento soprando ao contrário, e mesmo, sem ter o que dizer!...



Milly, mesmo que o vento sopre ao contrário, nós, como descendentes de Anita e guerreiras, temos que preservar nossas raízes e honrar a descendência! Grande afinidade nos une nessa amizade de longa data. Este escrito é em homenagem pra ti, minha querida amiga.
Beijos!


Sestroso: que tem sestro; mania, cacoete.
Taboca: bambu, taquara.
Cancela: porta gradeada, em geral de madeira e de pouca altura.
Cacimba: poço cavado até o lençol de água.


segunda-feira, 7 de junho de 2010

Ao pé do fogo...

A vida ensina, o fogo fascina... O primitivo não sabia reacendê-lo. Era necessário vigia-lo, pois do fogo dependia a sua sobrevivência. Detinha o poder, a tribo que detinha o fogo. Todavia, não existia toda essa confraria de palavras...


Então, me pergunto: Teria eu voltado ao tempo primitivo?




No fio da fumaça que se vai, esvaecem as poucas palavras que tento juntar, desprendendo-se de mim feito costura desmanchada... Tento novamente costurá-las, mas elas passam rápidas, tal cavalo pela estrada a buscar parteira...

Cambiaram-se, nas patas em tropel... Quem sabe buscando guarida, ou, quebrando amarras...

Quem sabe permanecem ocultas, caladas, ou quedadas, entre a cinza e a fumaça...

Quem sabe apressadas hibernaram. E sua volta tenha hora marcada, mesmo que seja em uma noite fria, branca de geada...

Nem me espanta. Emponchada de paz dou um sorriso... Minh’alma sabe do que preciso... Por hora, inda continuo forjando ao pé do fogo, enquanto o vento canta lá fora...

Segundo de eternidade... Momento que sorvo em serenidade. No passo das horas, não há embate, não há antes, nem o depois. Somos dois; o fogo a crepitar, e eu, a contemplar...


Beijos!

Foto tirada pelo meu filho:
Ao pé do fogo, eu, e meu companheiro inseparável Frederico II.