terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Árvores Natalinas e outras memórias...



Na véspera do Natal, eu tinha uma incumbência que de nada me desagradava. Minha mãe plantava araucárias, “pinheiros de natal” como se dizia por aqui, e como eu tinha que vendê-las, me empenhava com maior prazer, pois o dinheiro das vendas é que faziam o diferencial no presente de natal. Boas vendas significavam a escolha de um bom presente. Diferente de fazer as tais cucas e bolachas coloridas, a tarefa era muito motivadora.

Ela tinha sempre o maior cuidado na forma de plantio, observando a distancia entre uma árvore e outra, de forma que seus galhos pudessem desenvolver-se num espaço sem interferência de outras plantas. Mas o que minha mãe nunca soube, é que eu comia os deliciosos brotos dos pinheiros.

Naquele tempo, não era proibido o corte e venda, nem existia árvores artificiais por essas bandas. Então, lá saía eu cheia de entusiasmo para as vendas, visitando primeiro a Dona Eda. Mulher elegante e muito exigente na compra de sua árvore, mas uma compradora certa. E começar as vendas bem é imprescindível, para qualquer vendedor.

_ Bom dia Dona Eda, a senhora vai querer uma árvore de natal? passei primeiro aqui, como todos os anos. A mãe reservou a melhor árvore para senhora, linda, de copa perfeita e do tamanho que a senhora gosta

Bem após a primeira venda, seguia ofertando conforme a disponibilidade. E claro, já sonhando de olho nos brinquedos nas vitrines.

A que minha mãe escolhia para enfeitar, sempre era grande. Trazê-la para dentro de casa, não era tarefa muito fácil, cheia de espinhos e enorme, de copa até o teto, tomava metade da sala. Devidamente instalada, colocada em uma lata grande cheia de pedras e areia, com comprimidos fontol, (que dizia ela que evitava que ela murchasse logo), vinha à montagem do presépio que tomava o restante da sala. Papel pardo pintado fazia fundo, representando montanhas e pedras. Latas de plantas viçosas e floridas selecionadas por ela, para a vegetação, barba-de-velho e musgo dando um toque especial, caixas de enfeites com bolas de todos tamanhos, que ela já dava o alerta: “Cuidado pra não quebrar!” Espelhos, ou bacia com água eram os lagos, que ela enchia de patinhos. Serragem tingida de verde e marrom representava a grama e a terra dos caminhos, que levavam os reis magos até a manjedoura, que todo santo dia ela os mexia de lugar, como se estivessem percorrendo a caminhada. E adivinha para quem sobrava a tarefa de buscar as pedras, areia, plantas, tijolos para base e sustentação e montagem, desse gigantesco cenário? Eu sim, e não sei como ainda gosto tanto de natal, após tantas bolachas, cucas e montagem de árvores e presépios gigantescos.

Lembro-me especialmente de um natal de boas vendas, no qual ganhei um jogo de panelinhas com fogão e tudo, mais uma bola de plástico colorida, bem grande. Ah, que linda! Resolvi brincar com ela dentro de casa para não furar, no quarto de minha mãe. Feliz da vida estava eu arremessando meu globo colorido, até que cai bem em cima de um aparelhinho de colocar boa-noite, que era um inseticida espiral que se acendia para espantar mosquitos na época. Que decepção, durou tão pouco... Mas o jogo de panelinhas durou muito, e brincamos por anos numa casinha que minha mãe construiu de caixas de geladeiras, coberta com plástico transparente e colorido, bem de baixo de um abacateiro. Cada abacate que caia era uma choradeira, e eu nem sei se chorava pelo abacate caído na cabeça, ou pelo rombo no telhado da minha casinha.

Quando construí minha casa, mantive a tradição de plantar araucárias aproveitando o espaço do terreno e inexistência do jardim, doando aos amigos para montar suas árvores natalinas. Quando desmanchamos um galpãozinho, no qual armazenávamos lenha e outras tranqueiras, um minguado pinheiro sofrido, por estar plantado espremido lá num cantinho, cortou meu coração. Mantive o pinheiro, movida por lembranças tão doce, sem me dar conta com o passar dos anos de seu crescimento. Ele está enorme, o que é um perigo por estar rente as casas. Como hoje seu corte é proibido, preciso de uma licença especial para sua retirada. Mas, é a casa de tantos pássaros... E como retirar uma árvore tão grande? Eu sei de tudo isso, mas quando tocam no assunto mudo de conversa. Rezo para que nada aconteça, já que me traz tantas alegrias e também aos pássaros.

Desejo para todos, momentos alegres e de paz junto aos seus.
Feliz Natal!
Beijos!