sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Na boca da noite...


Na boca da noite, relembrando idas e vindas, chegadas e partidas, fantasmas habitam a alma na calma da escuridão...

Na noite escura estrelas brilham no céu e um pensamento ao léu, buscando e enredando um sentimento sem fim, vindos da alma para fora...

No breu e a lua distante, a nostalgia de um instante e um bem querer no coração guardado...

No silêncio de uma noite, almas põem-se a vagar e a buscar um alento, tudo o que está a faltar...

Na boca da noite faminta, uma alma pinta um céu de possibilidades e a saudade faz bailado entre algumas cenas...

A noite fica pequena para tantos devaneios, na coreografia o desejo de alcançar, quem muito longe possa estar...


Para os visitantes, um ótimo final de semana e beijos!




Imagem: Alba Luna- Olhares

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O tempo e o vento...

De espera, de dias, de ponteiros e de muitos janeiros. Basta um olhar, o ponteiro já se mexeu, pergunta-se: o que se perdeu?

Tempo de ociosidade, de pensar e de rever, sem saber o que virá, nem o que acontecerá...

Mistério, na relação do tempo e os rumos dos acontecimentos e o senhor dos ventos, soprando em nossos ouvidos sussurros em sopros debochados... Amigos ventos, calando quando esperamos respostas...

Nuvens que se projetam em nuances e formas, cavalgando ao sabor do vento... Ondas quebrando na beira da praia e a mão poderosa do senhor dos ventos, empurrando a embarcação em alto mar...

O senhor do destino, do tempo e dos acontecimentos, nos levando a crer que se repetirá um novo amanhecer... Tempo de luz e firmeza, dizendo que tudo é possível...

Tempo sem garantias, de magia e de encantamento e o entendimento que no próximo momento, pode nada mais existir...




Beijos, aos que visitam este espaço!




Glimboo imagem

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Sou eu a dimensão de um sonho


O que o nos define na claridade das letras, sou eu a sonhar... Sou eu, ornamentando e sonhando por mim e por ti...

Sou eu na solidão das noites, no vazio dos dias, no interminável tempo e na espera, num clarear de mais um dia...

Sou eu a buscar a janela, sou eu a pintar à tarde bela, sou eu que vela e a embalar os sonhos de esperança.

Sou eu a olhar o horizonte, sou eu que me encolho de frio, sou eu que sonho calada a imaginar...

Sou eu olhando o céu a indagar, sou eu, sempre eu a sonhar...



Beijo, aos visitantes deste espaço!



Imagem: Deviant Art

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Inspiração...

Passei a semana pensando no que escrever. Mas tudo que tento dizer, parece não ser o que quero falar e tudo que escrevi parece não ter graça. Num passa e repassa, remoendo os pensamentos, penso num jeito de tirar no peito as emoções que vivi e tentar escreve-las. Mas ao rele-las, achei tão banal, meio sem açúcar e sem sal.

Pensei afinal, no esbarrão que dei num moço na esquina, mas quem quer saber se tropeço e caio, se levanto cedo e que horas que saio. Lembrei que acordo já com um dilema que calçado calçar, meus pés doem só de olhar.Mas quem quer saber se aperta meu sapato, se uso salto ou ando de chinelo.

Revelo que tamborilei e cantarolei, rabisquei, iniciei e parei. Pensei no borralho, no orvalho, no sereno, pensei no canto do galo e no cacarejar de galinha. Pensei que é outubro, já vem dezembro e o natal. Espero que esse mal, vá logo embora e que eu lembre uma história, com começo e fim.

Nesse ínterim, passou como passa toda a semana. Se não fosse essa gana, eu não estava a pensar e a me indagar, porque a minha imaginação não voa, nas manhãs ensolaradas, nas madrugadas e nos voos livres, tal um pássaro, para trazer a tona ao som de uma cordeona e de um violão com sempre faço, momentos de infinita beleza, das profundezas e do que está aprisionado.

Todavia, você conseguiu perceber a vida dura de blogueiro, em desespero por não ter o que falar. Mas não vá pensar que será sempre assim, vou continuar pensando e procurando um mote, com sorte a inspiração voltará.



Beijos, aos que visitam este espaço!



Imagem: Marciano

Olhares


domingo, 12 de outubro de 2008

Abaixo de mau tempo

Atravessei dias, meses, temporadas e anos. Coisa esquisita tentar relatar, as palavras chegam faltar. Fico a pensar e para que tentar transcrever?

Ao rever minha trajetória, agarro meus dias, tomo posse de minha história e busco na memória meus passos, minhas opções e minhas ações.

Resoluções a partir do que era justo e do que era certo. Quem esteve por perto, nem sempre entendeu e muitas vezes se surpreendeu.

Mas o que é justo e o que é certo? Ao decidir fui julgada, para mais tarde me dizerem: “Desculpe você estava certa.”

Procuro não deixar aresta. Preocupo-me, com minha caminhada e nada me faz mais lúcida.

Nas buscas, nos conceitos e nos preceitos do que deve ser feito e no que nos é imposto, tento perceber o que há por trás disso.

São-me claras as intenções, suas ações, seu andar e seu olhar. As pessoas muitas vezes vão nos magoar e nos decepcionar, falando e prometendo o que talvez não estão em condições de cumprir. Sabendo disso é melhor não cobrar e nem exigir, somente aceitar e esperar que um dia possam acordar. E talvez isso aconteça, depois de muito sofrer.

Perceber, limites do ser e ver suas limitações, suas conclusões, seus objetivos relativos às suas intenções por vezes de puro ego.

Como cegos, fechamos os olhos criando ilusões, as vezes tentamos nos enganar, acreditando em promessas, palavras e demagogias, damos credibilidade a discursos insanos e com os anos, percebemos que aprendemos a duras penas.


Flores para os visitantes, beijo!


Glimboo imagens

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Menina de trança


Toda vez que olho o manto do passado, te procuro e tento rever. Não sem ter nostalgia dos dias em que ria, brincava e achava graça. Porque através dos teus olhos vejo os sonhos que eram seus, tão meus e tão atuais. Negar que não são mais, seria te desmentir. Não sentir, é renegar um pedaço de mim. E assim, tento lembrar como era o teu sonhar e tento te achar em meio às flores.

Relembro suas dores, seus silêncios nos momentos que alguma coisa não entendia. Mas sentia os olhares em sua direção, por vezes mais fortes que as ações. E sei que trouxe impressões e algumas imagens, dessas passagens.

Às vezes me dou conta de que o tempo não passou. Nesta luta incessante de gestos, de mãos estendidas. Do tempo que vias a vida com olhos ingênuos, achando que o mundo era pequeno, bonito e feito de jardins.

E assim, percebo que as mãos que acariciavam o gato são de fato as mesmas que hoje estão a escrever. E escrevo para você entender, que te acolho em meus braços e sei que faço por te compreender. Enxugo sua testa febril, dizendo que a dor já vai passar. Tento lhe afagar, segurando-lhe no instante que estas a desmaiar. E no chão inconsciente, canto para você perceber que não estas a sós e que já vão lhe encontrar. Tento falar para que não tenhas medo das imagens, são miragens, é a febre de novo a te castigar.

Acolho-te com carinho e digo baixinho, eu te amo! Chamo-te, te mostro as borboletas a sobrevoar. Tento mostrar uma florzinha miúda, as cores, os fatores e diferenças, enquanto pensa, porque és diferente. Sei que sente medo e insegurança. Uma criança tão pequena, sentindo-se não ser deste mundo. E a estranheza, com certeza, tinha suas razões.

Embalo-te com carinho, enxugo tuas lágrimas, quando te acho num cantinho sofrendo calada. Acolho-te em plenitude e essência, com ternura e paciência. Acolho-te na sua inocência, dizendo em seu ouvido, não chore criança, que não deixarei ninguém lhe fazer nem um mal.

Agora sei afinal, tudo que não sabias e não é menos dolorido. Por vezes vejo a anciã Lu a me espreitar, seus olhos serenos parecem dizer: “Tu sobreviverás, não precisa chorar!”

Um dia nós três iremos nos reencontrar, caminharemos de mãos dadas, seguindo a estrada bela e ensolarada. E enfim, faremos um jardim impregnado de cores, cheio de flores, feito somente de amores. Seguiremos a jornada, cantando nossas canções preferidas. Sentindo que o que deixamos para trás, foi só mais uma vida.




P.S: Todavia, há um espírito de uma guerreira, que jamais perdeu a esperança que a menina de trança sobreviveria. Embora visse as fragilidades, mostrava as verdades e guiava com segurança. Para a mulher de hoje, pede-lhe cautela e paciência.


Beijos, aos visitantes deste espaço!




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sábado, 4 de outubro de 2008

Charla campeira


Entonces, como ia contando o fandango corria solto. A las tantas e num repente a luz varou a noite e o raio passou por riba do galpão e foi de encontro à égua do compadre Filistêncio. Naquele momento, parecia que o céu tinha se partido no meio. Foi negócio feio!

Eu lá num canto com uma morena faceira estava de namoro, bem na hora do estouro. Num upa, dei de mão num facão e já gritei: Me pulem os fariseus!!!
A la pucha! Foi de susto, eu confesso. Mas o chão tremeu e muita gente gritou:
-Nos salve Nossa Senhora!!!

É uma estória bem comprida e mostra que vida se acaba num relance. E se não fosse o bastante, ainda a Dona Marica, viúva pela segunda vez, no fim da prenhez gritou:
-Chegou à hora!!!

Foi um reboliço e uma gritaria, o povaréu em coro chamando pela Virgem Maria! Senti o cherume de morte, senti inté um frio no cangote e rezei que a sorte, não tivesse me abandonado. Eu não era acostumado e nem era homem de réza, mas chamei por Deus e apelei pela Virgem Maria.

Ainda bem que não era uma noite fria, se larguemo na chuvarada, eu e toda peonada de lampião e facão. Já na saída me lembro como se fosse hoje, a Dona Chica entre a vida e a morte, pedindo socorro.

Adoentada e de coração fraco, também sofria dos quarto, que lhe impedia de correr. E ao ver todo o entrevero, de susto sentiu-se mal e afinal, o pior aconteceu. Desde mocita, sofria demais. Foi criada sem mãe e sem pai, por um certo fazendeiro, homem de posses e de muito dinheiro. Vivente destemido que até bandido, corria de medo. E desde cedo à coitadinha sofria, na judiaria e no sofrimento. E nem deu tempo, de buscar o doutor. A mulher se foi, entre lágrimas e lamentos e foi nesse momento que pensei: De que vale uma vida sofrida deste jeito! Doeu no meu peito, ver a coitadinha no chão esparramada e rezei de novo, para que não virasse alma penada e que Deus lhe recebesse com alegria.

E no alvoroço e na correria, pois naquele dia quem sobreviveu entendeu, que pior que estouro de boiada, é ver a peonada em desespero e reboliço. Pois o risco que se correu, fez até ateu se colocar a rezar. E não é querer exagerar, não foi um susto qualquer, pois teve até mulher, que se curou da dor de cabeça.

Por pior que pareça, sempre tem o lado bom das coisas. Foi isso que me disse o compadre Felistêncio, que andava abichornado e que desde aquele momento é um homem feliz. Curou-se da gagueira e queira ou não queira, o triste assucedido regenerou até muito mequetrefe e bandido. No mais e para arrematar o causo, les conto o que ele sempre me diz:

- Perdi minha égua de estimação, mas a patroa essa está boa e me encanta. Bem cedo levanta me chamando de meu bem, fala que ama e me dá mais um beijinho. Carinho eu tenho até de sobra! Parece doce de abóbora, de tão bom que é. E mulher, deste jeito deixa qualquer homem tonto e faceiro. Melhor que dinheiro, é uma china que nos ame! E se não fosse o infame do raio, eu ainda era gago e estava no assoalho, dormindo ainda no chão!!!


Mais um causo gaúcho.
Beijos, aos que visitam este espaço!



A la pucha: Exprime admiração, espanto.
A las tantas: A tantas horas, lá pelas tantas.
Abichornado: Aborrecido, triste, desanimado, vexado, envergonhado, acovardado, aniquilado, magoado, acabrunhado, macambúzio, abatido.
Assuceder: Acontecer, ocorrer.
Cangote: Deturpação de cogote. Nuca, pescoço.
Charla: Conversa.
Cherume: Cheiro. Resquício, vestígio de alguma coisa.
China: Mulher gaúcha; descendente ou mulher de índio, ou pessoa de sexo feminino que apresenta alguns dos traços característicos étnicos das mulheres indígenas; cabloca, mulher morena; mulher de vida fácil; esposa.
Entonces: adv. Então, pois. (Arc. port. Em uso no RS)
Entrevero: Mistura, desordem, confusão de pessoas, animais ou objetos.
Fandango: Baile.
Inté: Até. Significa, também, “até logo”, “até outra vista”
Le: pron. Lhe. (Este vocábulo, empregado na linguagem popular do Rio Grande do Sul, por influência castelhana, é, também, forma de português arcaico).
Mequetrefe: Diz-se do indivíduo vagabundo, tratante, capadócio, fanfarrão.
No mais: Não mais, sem mais, sem preâmbulos, sem mais nem menos, simplesmente, tão somente, unicamente, apenas.
Num repente: De repente, repentinamente.
Num upa: Num abrir e fechar de olhos. De golpe, de sopetão, muito rapidamente, sem delongas.
Peonada: Grande número de peões.
Patroa: Esposa.
Povaréu: Multidão de pessoas.
Varar: Atravessar, bandear, cruzar.
Vivente: Pessoa, criatura, indivíduo.

Obra do artista plástico gaúcho: Voldinei Burkert Lucas


quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Assombramentos


Pra quem não conhece essa estória, eu vou contar. Desde piazito e muito cedo, tive medo de alma penada. E sempre que seguia a noite alguma estrada e encontrava uma encruzilhada, parecia perseguição, pois sempre uma assombração vinha para conversar. Não é que eu queira me gavar, era mais requisitado que padre de altar!

O que queriam falar era desde um pedido que desse um recado, reclamação do túmulo abandonado, ou cobrança de alguma conta. Sempre afoita e em desespero reclamavam do enterro mal feito, do defunteiro, da cor da fatiota, ou até de algum sujeito de olho na viúva, na hora do velório.

Honório é meu nome. Mas há quem me chame de: “O homem que entende de defunto!” Sem mais delonga, perdi a conta de tantos atendimentos. Ver um sujeito em sofrimento, depois que espichou as canelas, não há coração que não parta de ver sua agonia.

Tinha dias, que tinha fila para conversação. Parecia correição de formiga e a estrada ficava apinhada de penitente. Já com vontade de sentar o braço, gritava então: Se aprumem, um por vez!!!

Tinha mais freguês que a venda do Anastácio. E não era qualquer índio macho, que dava conta de tanto encaminhamento. Acauso, um vento soprava de relancina no meu ouvido, eu já dizia: Chegou mais um bacudo sofrido, para fazer um pedido e uma reclamação!

Os anos se passaram então, eu já não agüentava mais, ser o capataz e porta voz, de tanta alma penada! Resolvi dar um basta e fiz um juramento. Não sou jumento para carregar este fardo, nem moleque de recado, pra ficar enredado no lamúrio dos defuntos!

Pra encurtar o assunto, vendi minha égua de carreira, fiz um capricho de gastar todo o dinheiro em vela e acendi numa barranca. Coloquei até uma santa, pra atender todos os pedidos e pra que nem mais uma alma se levante e venha me aporrinhar. Levantei até um altar de pedra que juntei perto de uma sanga e a estória deu muito pano pra manga, pois a reclamação foi tanta entre os falecidos, que me deu vontade de defuntear todos eles.

Hoje sou conselheiro dos vivos. Proseio com os viventes que vejo pela frente, que não deixem nem uma pendenga, prenda no compromisso, que não matem nem um bicho por covardia. Que não façam judiaria com filha de ninguém e se por bem não me entendem, já digo: Depois não venha se queixar se acaso a morte vier lhe encontrar e ficar uma aresta!

Pois sujeito que não presta, está cheio do outro lado. E não me faço de rogado para o esclarecimento, mando que tome tento e se encaminhe na vida. Que dê rumo aos acontecimentos e que não matem nem um sujeito de traição. Pois, tem vivente nesta vida, que não presta nem pra fazer sabão!!!


Mais um causo gaúcho.
Beijos, aos que visitam este espaço!


Acauso: Acaso.
Alma penada: Assombração.
Apinhada: Aglomeração, aglomerado, porção de coisas muito juntas.
Aporrinhar: Aborrecer, incomodar, importunar.
Aprumar-se: Melhorar de sorte de negócios, de saúde, de fortuna. Endireitar-se, arranjar-se. Pôr-se de pé.
Bacudo: Matuto, caipira.
Capataz:
Administrador de uma estância, responsável pela condução de uma tropa.
Correição: Grande quantidade de formigas.
Defuntear: Matar, assassinar. Terminar consumir.
Defunteiro: Pessoa que trata de enterros.
Enredado: Enleado nas rédeas, no laço, no amarrado. Emaranhado.
Espichar as canelas: Morrer.
Fatiota: Conjunto das roupas do homem: calça, colete e paletó.
Gavar: Gabar.
Lamúrio:
Lamúria, choradeira.
Penitente: Padecente, sofredor.
Piazito: O mesmo que piazinho.Piá pequeno.
Relancina: Relance, repente, rapidez, velocidade. Repentinamente.
Sentar o braço: Surrar, bater espancar, esbofetear, esmurrar.
Tomar tento: Tomar jeito, tomar um rumo, tomar uma direção.
Vivente: Pessoa, criatura, indivíduo.